É preciso ter cuidado para não pintar a besta de verde.

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A física e ativista indiana Vandana Shiva, uma das grandes vozes da atualidade sobre , crê que a não será um fracasso, contrariando as previsões pessimistas.

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/510083-e-preciso-ter-cuidado-para-nao-pintar-a-besta-de-verde

 

A reportagem e a entrevista é de Andrea Vialli e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 01-06-2012.

A conferência se salvará não pelos acordos que serão firmados -que devem ser menos impactantes do que aqueles feitos na Eco-92 – mas pela força de pressão da sociedade e dos movimentos sociais, na visão dela.

“Conectadas como nunca, as pessoas farão a diferença no sentido de propor a construção de novos caminhos para o mundo”, diz a ativista, que veio ao para participar do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento.

Crítica feroz da e da , Shiva ressalta que os governos estão apáticos nas principais convenções ambientais (, ) por causa do avanços dos grandes grupos e seus lobbies poderosos, os quais, mais do que nunca, influenciam as decisões dos governos. Aqui, ela fala dos riscos do conceito de “ verde”, foco da conferência.

Eis a entrevista.

A sra. virá à Rio+20?

Sim, chego no dia 17 de junho para os painéis que estão sendo preparados pelo governo brasileiro. Um deles é sobre segurança alimentar e energética. Uma das grandes mudanças da Rio+20, em relação à Eco-92, da qual também participei, é que agora a está no centro das discussões. Especialmente a agricultura tradicional, que ganha importância como uma questão ecológica. Também farei parte de várias atividades na Cúpula dos Povos, com o objetivo de acordar os líderes.

Os líderes mundiais precisam acordar para o desenvolvimento sustentável? Há críticas sobre a agenda difusa da Rio+20.

Em 1992, a agenda era bem clara: incluir a proteção da natureza entre as obrigações da comunidade internacional. Daí surgiram as principais convenções, como a do clima e da biodiversidade, e também os Princípios do Rio, que foram um balizador das leis ambientais no mundo todo. Mas a agenda da Rio+20 está difusa por um motivo claro: a ascensão, nos últimos anos, do poder das grandes corporações multinacionais.

As empresas estão influenciando as decisões globais sobre ambiente?

Sem dúvida, e não para o bem. A ascensão do poder das grandes empresas se deu em razão dos acordos de livre comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio). Esses acordos permitiram amplo acesso das empresas aos recursos naturais e estão ajudando a desregulamentar o que foi duramente regulamentado durante a Eco-92. Desde então, as multinacionais estão destruindo o futuro da humanidade. Foi por causa delas que não há avanços nas negociações de clima, por exemplo.

E não estão na agenda da Rio+20.

Não há progressos nessa área desde a conferência de Copenhague. Depois vieram os encontros de Cancún e Durban, sem resultados efetivos. Por causa do lobby das grandes corporações, os países estão ‘desregulamentando' o que havia sido regulamentado antes.

A sra. poderia dar exemplos dessa ‘desregulamentação'?

O Brasil é um exemplo, veja o que ocorreu com os . Quando eu vim pela primeira vez ao Rio Grande do Sul, a convite do José Lutzenberger [ex-ministro do Meio Ambiente], havia um forte movimento dos agricultores contra as sementes geneticamente modificadas. Agora os campos estão cobertos de transgênica. Isso é parte da mudança trazida pela globalização, da tomada do poder pelas multinacionais que são contrárias a qualquer acordo ambiental. Os setores mais nocivos são as empresas de combustíveis fósseis, os gigantes do e da biotecnologia. O Canadá era um país progressista na Eco-92 e agora está paralisado nas negociações ambientais por causa das empresas que exploram óleo nas areias betuminosas.

Como tornar a conferência relevante?

A resposta está nas pessoas. É por isso que a Cúpula dos Povos é tão importante. Serão as pessoas e os movimentos sociais que vão impor uma nova agenda para a humanidade. Conectados como nunca, as pessoas farão a diferença no sentido de propor a construção de novos caminhos. Veja o movimento “Occupy“, por exemplo.

Outra discussão da Rio+20 será a formulação de novos indicadores econômicos. A sra. acompanha esse debate?

Sim, e fico feliz que muitos economistas ‘mainstream', como Joseph Stiglitz, estejam empenhados nesse debate. Mas o que não podemos é transformar a natureza em commodity. Devemos valorar a natureza, mas não transformar o ar, a água, as em mercadorias. Esse é um dos riscos do conceito de economia verde. Ele não é ruim em essência, mas o que me preocupa é se essa não será mais uma manobra para os poderosos saquearem os recursos naturais em nome dessa “nova economia”. Temos de ter cuidado para não pintar a besta de verde.

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